meio nu
meio não
Indecência
Tal pequeno contorno de mulher-floresta
Exposta e cerrada
Imensidão mutilada da mata
Restada no perímetro de um canteiro de praça
Que avenidas e construções
Ritmos e gestos civilizatórios violadores
Sitiaram.
Eu te trago a indecência.
Conjuro pelo olhar sobre o teu corpo enramado
O poder que faz desaparecer a cidade
Seus encantamentos castradores
Suas condenações
Sua escassez arquitetada
As cercas eletrificadas e arames farpados
Na nossa carne e histórias.
Resta o meu olhar cru sobre você
O silencio doce que lambe a sua pele
E o espaço amplo e luxurioso que contorna e convida
O seu corpo.
Nasce o calor.
Primeiro, dentro da boca vermelha que abre
Depois nos braços que se soltam (aquele que está atrás, antes)
A perna abraçada contra o peito, solta,
Pousa sem gravidades sobre a outra
Que já não poderá permanecer dobrada
Quando os pulmões enchem de ar
Os seios de vida,
Os mamilos de sangue.
Você acaricia o chão com deleite
E o espaço brota do teu colo como um jorro
Que não se pode deter.
As tuas pernas desenham céus e se abrem
Sem esforços
Sem punições
Sem decências
Sem qualquer lugar para ir
Floresta amanhece nos lábios da vulva
Que abocanha a existência
E acolhe o meu olhar.