top of page

Indecência

Tal pequeno contorno de mulher-floresta

Exposta e cerrada

Imensidão mutilada da mata

Restada no perímetro de um canteiro de praça

Que avenidas e construções

Ritmos e gestos civilizatórios violadores

Sitiaram.

 

Eu te trago a indecência.

 

Conjuro pelo olhar sobre o teu corpo enramado

O poder que faz desaparecer a cidade

Seus encantamentos castradores

Suas condenações

Sua escassez arquitetada

As cercas eletrificadas e arames farpados

Na nossa carne e histórias.

 

Resta o meu olhar cru sobre você

O silencio doce que lambe a sua pele

E o espaço amplo e luxurioso que contorna e convida

O seu corpo.

 

Nasce o calor.

 

Primeiro, dentro da boca vermelha que abre

Depois nos braços que se soltam (aquele que está atrás, antes)

A perna abraçada contra o peito, solta,  

Pousa sem gravidades sobre a outra

Que já não poderá permanecer dobrada

Quando os pulmões enchem de ar

Os seios de vida,

Os mamilos de sangue.

 

Você acaricia o chão com deleite

E o espaço brota do teu colo como um jorro

Que não se pode deter.

 

As tuas pernas desenham céus e se abrem

Sem esforços

Sem punições

Sem decências

Sem qualquer lugar para ir

Floresta amanhece nos lábios da vulva

Que abocanha a existência

E acolhe o meu olhar.

© 2024 Direitos Autorais Reservados 

bottom of page