top of page

Essas águas

essas águas

essas águas

eu não sou delas

ou seria

sou mesmo peixe de montanha

magro pequeno só

ou antes

porque para água me tornei depois

sou vaca magra de pastos bom

longe de mar

mas tenho lua em mim

lua d´água

então

não asseguro

pode ser que eu nasci de carne molhada

e só para pensar seco ao sol

preparo meus pensamentos ao sol

essas águas

essas águas

essas águas

deu-me permissão para despir

deu-me cor de elogios

deu-me espaço para correr de olhos fechados

deu-me medo de não ter parede para encostar e que me apertasse até

deu-me chão para respirar e não morrer de morte ingênua uma ou outra vez

deu-me presentes de mulher

essas águas

essas águas

essas águas

essas águas

e o fogo d´água gosto

seus estrondos

seus jorros

seus murros em pedra

seus brancos

os ventos que me sopram a cara

e cerram os meus olhos

e rasgam meu peito em gritos rodamunhados com risos

correr de um lado para o outro sem lhe tirar os olhos

mar

eu

bicho em desafio

seguro em areia

frente para o maior que tu és

a alegria

a guerra

a farra

o frio

o que eu queimo

eu queimo d´água

essas águas

essas águas

estou chegando

venho só para esse todo

a montanha é para os olhos

o mar é para a certeza

aqui pode ser qualquer lugar

mas sei que estou mais perto

e que só o verei quando o nariz já estiver molhado

natureza de sonho essa

qualidade de desejo

peso de cheiro

essas águas

essas águas

essas águas

essas águas

o teu gelo

o teu queimor

ou sempre as curvas que desenha

que mergulha

que se eleva

que arrebenta

que recolhe

o calor

a pele

a pele sem norte sem polos

sem cabeça e sem pés

sem pés para gosto nenhum

para todo gosto

onda

onda

onda

onírico

onda

pedra

onírico

riacho

nascente

pedra

doce

fonte

onírico

corrente

onírico o amarelo que te cobriu

a alvura tez tua branca

a gruta

a pedra nua

onírico o dourado que te misturou

a água que te brotou

e escorreu

os morros

as pernas as formas

onírico o encontro nosso no escuro

o nascedouro de clarões

os trovões que te possuíram

onírico o tremor nos poros

a incompostura dos pelos

as pontes sobre os arrepios

onírico os tropeços e acertos nos ritmos

o suave e as corredeiras

os avanços e os recuos

onírico os impulsos e os rompantes

a pele da água para tatear

o corpo d´água para suspender

os morros as formas os rios

a carne para atravessar

para permear

penetrar

onda

derramar

onda

onda

derramar

derramar

derramar

amar

amar

mar

mar

mar

mar

mar

mar

© 2024 Direitos Autorais Reservados 

bottom of page